domingo, 4 de março de 2012

Em construção

     Há alguns dias cujo tempo não está bom: nebuloso, cheio de cinzas e triste, assim, em um piscar dos olhos. Ah, como eu queria não tê-los aberto ou jamais fechado!
     Como um ser invisível, perpasso pelo dia repleto de luz dos que me cercam. Talvez, em algum momento ou outro, a minha nebulosidade em contato com os raios solares crie alguma sombra que os incomode um pouco, no entanto, é pouco de mais, é preferível enxergar a pequena luz que luta em aparecer em mim durante o meu dia, pois ninguém quer dividir tristezas ou está disposto a estender as mãos e quando estendem, acredite, não estão totalmente abertos a te ouvir e ajudar.
     Esses dias tornaram-se eternidades. Tenho a impressão de que uma hora ou outra a luz se apagará por completo, afinal, o mais forte prevalece, a cor mais escura sobrepõe qualquer outra cor e os meus dias estão escuros; não há nada pior do que enxergar a própria escuridão.
     Observe que, dificilmente, as pessoas descrevem as cores claras, coloridas de seu dia: a felicidade nos ocupa de mais para descrevê-la, é melhor vivenciá-la; em contrapartida, os dias nebulosos e cinzentos são registrados detalhadamente: a cor escura precisa ser omitida dia a dia para que as pessoas se acheguem a você, por isso, há necessidade em descrevê-la por palavras escritas. Palavras que, talvez, nunca sejam lidas ou compreendidas, mas palavras singulares que tornam-se plurais e não podemos deixá-las guardadas: sinto uma grande necessidade em fazer-me palavras.
     Bem disse um grande escritor que, o ser humano vive em constante construção, ele nunca está completo; todos os meus pedreiros e mestres de obras abandonam as ferramentas quando eu não tenho mais o que oferecer. Não consigo construir-me sozinho, mas na grande construção que há em mim, sou eu quem mais preciso trabalhar: um trabalho árduo e lento.
     Durante minha construção, precisei, nos últimos dias, quebrar uma parede que, na verdade, já estava rachando, mas que eu insistia em repará-la; a parede era grande e o estrago final também foi, agora, há uma grande bagunça e muita sujeira causada ao cair sobre o chão, neste momento, preciso de uma grande limpeza, uma faxina geral, pois os outros cômodos, alguns já pintados, foram atingidos pelo impacto da queda; alguns apenas se sujaram um pouco enquanto outros estremeceram e criaram rachaduras; para só depois, recomeçar a construção ou então, se melhor for, desconstruir a necessidade dessa parede e refazer-me diferente, mas com cores alegres e vibrantes que, certamente, não serão compartilhadas por palavras escritas e sim, por momentos vividos.

Marciele de Oliveira