sábado, 8 de outubro de 2011

A literatura em mim

        Um dia eu também critiquei a literatura e cheguei a indagar: para que estudar sobre textos inventados que nada me acrescentarão? Poemas, contos e tantas outras obras que mais parecem ser coisa de doido. Tempo perdido enquanto poderia se estudar mais a gramática, por exemplo. Mas que pensamento tolo o meu.
          Para mostrar-me a sua importância, a literatura veio ao meu encontro e então, cheguei a perceber que era inútil e tão grande, a perda de tempo que eu tive de renunciar a literatura em minha vida, pois essa arte está tão dentro de mim o quanto eu estou dentro dela. A literatura habita sim, dentro de mim, dentro de você e de todos nós, no entanto, poucos a descobre.
       Através da literatura não encontrei apenas textos inventados, mas a minha realidade escrita de maneira diferente e percebi que ela não é coisa de doido, e sim, uma arte para os que querem viver o que se sente. Não preciso eu, diante de uma sociedade que tão pouco quer saber da minha felicidade, procurar a minha dignidade aos quase 70 anos de idade, buscar uma porta de saída após viver durante anos como um ninguém. Também não preciso passar a vida inteira contemplando a felicidade das pessoas ao meu redor e terminar por mim, a ficar sobre a janela dando nomes as pessoas na rua a procura de um “príncipe sapo”.
     Aliás, ao exprimir os sentimentos calados de seus personagens e a revelar suas frustrações, os autores impulsionam seus leitores a fazerem diferente, a perceber que a dignidade de cada um pode ser encontrada agora e que a felicidade contemplada pode sim, ser vivida por todos.
    A fim de não sei o que, ali estava à literatura, frente a mim, olhando-me nos olhos, encarando-me de frente, mostrando a sua face e pedindo que eu lhe apresentasse a minha. Ela não só mostrou-se importante, como também, mostrou-se habitar em mim.
        Mais do que me ajudar a criticar o mundo a minha volta, a literatura me ensinou a criticar a mim mesma. Ensinou-me a mergulhar dentro do meu eu, ir ao mais profundo possível e sempre que chego lá, vejo que ainda é possível ir mais longe, pois o que há fora de mim é apenas uma casca, na maioria das vezes, a casca que a sociedade me exige ser, mas o que há dentro de mim é tudo o que sou e o que ainda posso ser.
        A literatura foi o reflexo de minha face, a criticidade foi o “eu” escondido e a subjetividade? Eu descobri ser para poucos que se permitem vivê-la. Um sentimento ímpar, mas que um dia, quem sabe, pode se tornar par.



Marciele de Oliveira

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Despedida

Nosso caminho... o mundo ao nosso redor...
Ninguém sabia que ali estávamos e nem precisava saber
Foi uma despedida pertencente somente a nós
Assim como um dia começamos somente entre nós

O caminho era longo e escuro
O vento era frio e árduo
E o silêncio pairava entre nós
Uma voz necessariamente calada
Mas ainda estávamos ali: bem próximos
Próximos pela última vez

Última vez...
Como dói saber que é a última vez
Como dói saber que é preciso ser a última vez
Como dói saber que um dia houve uma grande primeira vez
Como dói saber que não há uma eterna primeira vez

O caminho foi longo, mas finito
Havia uma linha de chegada
Uma linha que nos limitava... que nos separava
Quem foi que criou essa linha?
Sinceramente, eu não sei
Talvez, alguém não tão distante de nós mesmos

Dei alguns passos à frente... ligeiros e lentos
Hesitei em olhar para traz, não queria ver o caminho vazio
Pensei em correr, mas as minhas pernas pareciam não querer obedecer
Cheguei à esquina e agora seria definitivo
Ao virá-la não mais o veria

Em um minuto revivi todo o nosso percurso
Vi a escuridão e senti um tremendo frio
Olhei para trás em uma breve pausa
E meu coração se aqueceu ao vê-lo ali esperando o meu adeus
Foi a sua última imagem que os meus olhos puderam ver

Despedimos-nos silenciosamente e a metros de distância
Mas os quilômetros do caminho parecem não existir
quando meus pensamentos, comigo estão sozinhos

Marciele de Oliveira