sábado, 25 de agosto de 2012

O amor a minha maneira



Outro dia questionaram meu aparente “desapego” pelo amor, pela vida a dois, a formação de uma família. De imediato, eu disse que não era desapego, e sim uma maneira diferente de querer viver esse momento tão idealizado, aliás, a maneira diferente que um dia pareceu ser verdadeira entre todos, mas que atualmente tem se perdido.
Frequentemente, ouço as pessoas dizerem de “boca cheia” (e imagino que de coração vazio) que os tempos mudaram, que estão vivendo a modernidade e que a mente humana evoluiu-se: marcas de um progresso contínuo. E em consequência disso, encontramos cada vez mais famílias desestruturadas, filhos sem limites, alunos sem perspectivas de vida, pessoas vazias e uma sociedade fútil; repleta de misérias.
Penso que as pessoas, em prol da tão sonhada evolução, desaprenderam a amar, ou quem sabe, haja tantas outras que nem se quer sabem o que é amar. Sendo assim, para que irei apressar-me a viver o que não encontro neste mundo? Para viver de aparência? Sinceramente? Isso não me motiva!
O amor tornou-se um substantivo tão comum que as pessoas dizem amar as outras com uma facilidade surpreendente e medonha (eu, particularmente, tenho medo de quem ama com facilidade!), mas não cometem a ação de amar e tão pouco, reconhecem as características de quem ama.
Infelizmente, as pessoas não querem submeter-se a um amor verdadeiro, pois é exatamente assim que elas se veem: submetidas, como se deixassem seu eu de lado para viver o outro, como se estivessem se entregando a uma prisão de convenções. Não! Não é essa realidade (tosca) que as pessoas querem viver e, por isso, preferem a liberdade vazia.
No entanto, ao meu humilde ver, mais triste do que “fugir” desse amor equivocado, é se dispor a vivê-lo por aparência. Quantos são os casamentos construídos por uma prisão de aparências? Você nunca viu algum? Pois bem, eu já vi muitos que ao se desfazerem os separados saíram “enlouquecidos” querendo viver tudo o que não viveram enquanto casados.
Talvez eu esteja exagerando... (será?!) Afinal, ainda há os que vivem verdadeiramente o amor, mas acredite: há muito mais os que apenas dizem viver. Com um tempo, percebi que na vida real há muito mais atores do que nas novelas de TV.
Por fim, sei que a vida é repleta de incertezas e isso me conforta até certo ponto, pois imagino que seria monótono demais se vivêssemos somente de certezas. Mas uma coisa eu posso afirmar: se for para viver um amor de aparência, casar porque as pessoas mais ENJOADAS do mundo, quando me veem só sabem me perguntar por isso e contribuir para uma sociedade cada vez mais “bagunçada” e vazia, eu prefiro, simplesmente, viver o meu amor próprio (aquele as pessoas insistem em confundir com egoísmo). Aliás, talvez a falta de amor a dois se dê exatamente por isso: pela falta de amor próprio, pois aprendemos a valorizar o outro quando valorizamos a nós mesmos.





quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Já que estamos, mais uma vez, em época de eleições, vale a pena lembrar de um texto que produzi no 1° período da faculdade em 2010.



A esperança é a última que morre
A chamada “Justiça Social” que para muitos parece estar tão próxima, na verdade, não passa de uma realidade cada vez mais distante, o que por algumas vezes me levou a perguntar: o que seria de fato viver em meio à justiça social? Será que é mesmo possível torná-la real? E depois que isso acontecer, o que irão nos propor os políticos em suas campanhas?
            Eu, sinceramente, talvez nem soubesse responder a essas perguntas com total clareza, mas as mesmas fizeram com que eu recordasse de uma pequena cena que presenciei na rodoviária de Cachoeiro de Itapemirim – ES há pouco menos de um mês. Enquanto aguardava o ônibus, um casal com quatro filhos, três meninas e um menino, se aproximou de mim, e então, pude perceber, mesmo que involuntariamente, que ali não havia a chamada “justiça social”, pois, o desejo de assim como irmão menor, estar com um copo de suco e um salgado nas mãos, era notável na fisionomia das três irmãs maiores.
Logo imaginei qual grande seria a felicidade daqueles pais em poderem proporcionar um bom lanche a todos os seus filhos em igualdade do contrário de terem que atender apenas a necessidade do que não seria capaz de compreender a atual situação da família, claro, as irmãs maiores saberiam esperar até o almoço mais do que o pequeno garotinho que segurava aquele salgado como se fosse a única coisa que tivesse de seu.
            Com isso, cheguei a pensar: “essa vida que muitos e muitos brasileiros têm, alguns ainda piores, completamente na miséria, pode ser chamada de justiça social?
            Em épocas de eleições, como a presente, políticos se “autopromovem” como os benfeitores da sonhada sociedade justa para todos. Vão às ruas, ouvem o povo, mesmo que simbolicamente, dão aperto de mãos, beijinhos até! E recentemente, li no jornal Fato, sobre o político que desceu um dos morros de Cachoeiro de Itapemirim – ES pilotando um carrinho de rolimã. Muito bonito a humildade desse povo! Todos amáveis, atenciosos que só! Ganham seus eleitores se misturando a eles e quando se colocam na posição almejada, esquecem de colocarem em prática seus planos de ação, mas, será que eles tinham mesmo um bom plano de ação?!
            Ainda no jornal Fato, outro candidato disse assim: “Eu sempre fui muito preocupado com a desigualdade social, com a injustiça que acontece em nosso país.”, pois é, eu também me preocupo, mas o que é que o tem diferenciado de mim? Na verdade, nossos políticos devem amar a desigualdade social, porque se ela não existisse eles não teriam pelo que lutar.
            Em suma, para mim, infelizmente, a justiça social está ainda mais distante de se tornar real do que podemos imaginar, pois enquanto houver famílias que precisam escolher um de seus filhos para oferecer um lanche; pesquisas realizadas pelo IBGE mostrarem o quanto é desigual o número de negros que têm acesso ao ensino superior comparando-os aos brancos e tantos outros fatos lamentáveis existentes em nossa sociedade, a justiça social ainda será abstrata e nós, população, continuaremos sonhando com o político que não brincará de ser político.
            E assim, vamos vivendo o famoso dito popular: “A esperança é a última que morre!”.


Marciele Brandão de Oliveira
 1° período de Letras Língua Portuguesa
Novembro/2010

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Análise fílmica: “Os pilares da terra”


     Analisando o filme “Os pilares da terra”, percebe-se que a Idade Média retratada na Inglaterra, basicamente, não se diferencia em nada de nossa atual realidade em pleno século XXI. É claro que adquirimos um ou outro progresso, no entanto, nossa maior mudança foi na aparência e não refiro à aparência física, mas sim, no “aparentar” ter progredido. Sendo assim, analisemos:
     O filme retrata de forma profunda e bem detalhada as questões políticas, econômicas e sociais: um rei, cuja obrigação seria lutar pelo “bem estar” de seu povo, no entanto, que prioriza o seu próprio bem estar. Claro! Antes de tomar qualquer decisão é preciso ver qual benefício trará a si mesmo, afinal, o rei não pode ser atingido e tão pouco, pode tomar uma decisão “errada”, por isso, deem voz aos conselheiros para que auxiliem o rei em sua decisão e se ele, por sua vez, decidir pelo errado culpa-se os conselheiros, pois um rei nunca erra.
     Ora, o que é que tivemos e ainda temos em nosso governo? Presidentes, rodeados de senadores, secretários, governadores e tantos outros no poder político, verdadeiramente preocupados com o bem estar dos brasileiros? Cria-se um programa de benefício aqui, outro ali e os brasileiros se esbaldam com os farelos enquanto os “doutores da lei” se esbaldam com o banquete maior: escândalos mais escândalos cujos culpados nunca aparecem e tão pouco são punidos. A diferença, porém, é que atualmente, votamos e escolhemos o nosso rei e seus conselheiros, mas a desigualdade prevalece.
     Com tantos interesses políticos, sociais e econômicos, na Idade Média ninguém é amigo de outro alguém, ou melhor, até se é enquanto um estiver beneficiando o outro e vice versa, do contrário, meus caros leitores, tornam-se estranhos e/ou inimigos mortais.
     E então? Será que melhoramos 100% nessa questão em pleno século XXI?
     O individualismo está cada dia mais presente na vida dos seres humanos e, como bem escrito por Machado de Assis em “Um Apólogo”, ora somos agulhas e ora somos novelo de linha, mas pouco sabemos e/ou queremos caminhar juntos.
     Retornando a Idade Média, o filme retrata, claramente, a influência que a igreja, a católica na época, tem sobre as pessoas: o nome de Deus é escandalizado em todas as ações, pois adquirem riquezas, acusam, condenam e matam em nome de Deus; o inferno era temido e a glória de Deus almejada.
     Pois bem, em pleno século XXI, a revista “Veja” em uma de suas edições do ano de 2011 tem como matéria de capa: “Fé e dinheiro, uma combinação explosiva”, será que alguém já se esqueceu do escândalo da igreja Universal e recentemente da igreja Maranata? Independentemente de denominações destaca-se o mais importante: o nome de Deus ainda é escandalizado. Alguém aí está a fim de comprar um pedacinho do céu? Em alguma igreja, certamente, ele está à venda.
     Outro assunto que o filme expõe é a figura da mulher na Idade Média: submissa, objeto de procriação e de prazer, para os homens, é claro. Nisso, evidentemente, nós melhoramos e muito; uma grande evolução feminina, afinal, antes as mulheres não tinham voz, casavam-se por obrigação e por determinação de seus pais, da igreja ou de qualquer outro, menos por opção dela mesma; sofriam caladas e sem alternativa de escolha.
     E agora, em pleno século XXI, qual tem sido a figura da mulher?
     Ah! Agora a mulher é independente, tem atitude, faz suas próprias escolhas e algumas, para não generalizar, sentem prazer ao serem chamadas de “cachorra” e ao receberem uns tapinhas. Precisam ser conquistadas para receberem o seu amor. Uma dica? “Delícia! Delícia! Assim você me mata. Ai se eu te pego. Ai! Ai! Se eu te pego!” e pronto, resolvido.
     Grande evolução! Antes as mulheres eram submetidas aos desejos do homem, atualmente, as mulheres se submetem aos desejos do homem.
     E o que dizer da mãe de William Hamleigh que, durante todo o filme, alimenta uma relação amorosa e sexual com seu próprio filho que se mostrava desconfortável com a situação?
     É claro que com o passar dos anos William Hamleigh cresceu e a situação deixou de ser a que, atualmente, conhecemos por pedofilia, mas em pleno século XXI, inúmeros têm sido os escândalos de abuso sexual entre pais e filhos.
     Por fim, pensemos no que o filme pouco mostrou, mas que não passou despercebido: homossexualismo, liberdade de escolha sexual que deve ser respeitada, independente de concordar ou não.
     No filme, um amor homossexual, confessado a um padre, levou um homem à fogueira e ao outro, que o confessou, à prisão eterna de seu segredo. Atualmente, em pleno século XXI, mesmo com tantos direitos alcançados, gangues agridem fisicamente aos homossexuais.
     Contudo, ainda se vive a Idade Média, porém, de forma camuflada, tanto que chega a ser imperceptível, pois a aparência da tão sonhada evolução tem tampado os olhos de quem não quer ver. Logo, os pilares ainda são fortes a ponto de fazer com que muitos se acostumem com eles de forma natural. Sinceramente, eu não sei de exato o que poderia destruí-los, mas certamente, os que sabem estão acomodados por de mais com a atual situação para mover a melhora.

domingo, 22 de julho de 2012

“Palavra não morre de solidão”


Hoje eu li “que palavra não morre de solidão”. Até então, nem poderia imaginar quantas são as palavras que compõe o enredo chamado Marciele, que na verdade, poderia ser chamado de MARI, MARIELE, MIA, ou MILA, mas que se permitiu ao máximo, ser chamado de CIELE pelos mais achegados, do contrário, se não fosse Marciele, muitas palavras ficariam perdidas no meio do caminho e a diversidade desse enredo não abrangeria tanto.
            Já nas três primeiras letras, percebemos a presença de um ser da natureza imenso e imprevisível: MAR. Ora é sinônimo de lazer em suas águas límpidas, azuis ou verdes, mansas, tranquilas, ora é sinônimo de destruição, fúria, movimentos revoltosos e incontroláveis por qualquer humano, mas admirável sob a luz do luar.
            E por mais que houvesse tristezas na vida, Marciele sempre RIA. RIA e RI de felicidade, de momentos alegres, descontraídos e emotivos, de desespero e de omissão. É! Omissão das lágrimas contidas.
            Em Marciele há mais de CEM MIL leituras a se fazer. Imenso como o AR que respiramos, esse enredo faz questão de se LER e de pedir que o LEIAM. Exatamente! Marciele gosta de ser lida em sua imensidão que por vezes desconhece, mas que ama ser revelada.
            Marciele é RICA em defeitos e qualidades. Às vezes, age como REI e faz sua vontade transforma-se em LEI, que se não for respeitada, é capaz de provocar um tsunami, no entanto, sua maior LEI é a RIMA da igualdade: CRÊ na diversidade e no respeito por esta.
            IR ao LAR de Marciele e CIA é mergulhar MAR adentro sem saber o que podes encontrar; é dar MEIA volta ao mundo e almejar a outra MEIA volta que falta; é CEIAR a vida em seus múltiplos sentimentos; é enfim, perceber que não há fim para as palavras surgirem.
            AMEI encontrar em Marciele a MARI, a MARIELE, a MIA, a MILA, a MARCI, a MEIRE e a CIELE, falta apenas encontrar ELE que acrescentará a ELA a RIMA almejada.
            E você? Já experimentou encontrar-se em meio às palavras?

segunda-feira, 16 de julho de 2012

O singular da vida


          Psiu! Não fale nada. Não há necessidade em dizer. É o momento de se fazer. Entre tantos vocábulos; vogais que se unem as consoantes; consoantes que se encontram e se separam; acentuações tônicas em verbos, sujeitos, adjetivos e predicados, nenhum deles é capaz de superar o que você é capaz de fazer. Por vezes, uma imensidão de silêncio basta para dizer tudo o que precisa ser dito.
          Não se preocupe com o suplerfo, com conjugações minuciosas que nada expressam: para a vida não pode haver regras que o impeçam de conjugar a felicidade. Uma criança tão pouco, basicamente nada, sabe sobre tantas conjugações verbais e, no entanto, conjuga a sinceridade e a espontaneidade de ser feliz.
          Ei! Não há o porquê de se privar com o certo ou com o errado. Tais concepções são subjetivas e quem poderá contradizê-las? A regra oficial? A padronizada? Nossa vida é uma variável constante: plural, singular, singular, plural... E mesmo quando pluralizamos, não conseguimos generalizar. Até mesmo a gramática normativa contém suas exceções.
          Mas! O que é que você está fazendo? Se escondendo? Mas por que e de que? Chegue aqui, olhe para fora, veja um pedaço do mundo que também é seu. Sim! Ele é seu, cada dia mais presente. O presente é o tempo certo para conjugar todos os verbos.
          Espere! Ouça a voz do silêncio; sinta o tocar do vazio e veja o invisível que está a sua frente. Um grupo de “S’s” nem sempre significa que não estás sozinho. Não existe uma única gramática no mundo, talvez, apenas uma que seja reconhecida pelos “doutores da lei” que não experimentam as diversidades dos verbos em seus gostos naturais, mas fazemos parte deste imenso quebra cabeça chamado humanidade, logo, somos diferentes: peça singular a procura do plural necessário a se completar e ainda assim, haverá muitas peças a batalhar.

Só para compartilhar

Naturalmente...
Assim as coisas se deram em minha vida, até que em um belo dia eu resolvi mudar e passei a parar de deixar as coisas acontecerem da forma que fosse.
Bastava querer e então, lá ia Marciele atrás... ganhei muita coisa, mas também quebrei a cara.
Talvez não tenha sido tão bom mudar, mas como saberia se não tivesse feito?
Fui até a última gotinha de água e ainda dei uma expremidinha para ver se ainda tinha algo para sugar e na verdade, uma hora ou outra eu ainda acabo fazendo isso.
Contudo, percebo a cada dia que não é fácil abastecer-se!

domingo, 4 de março de 2012

Em construção

     Há alguns dias cujo tempo não está bom: nebuloso, cheio de cinzas e triste, assim, em um piscar dos olhos. Ah, como eu queria não tê-los aberto ou jamais fechado!
     Como um ser invisível, perpasso pelo dia repleto de luz dos que me cercam. Talvez, em algum momento ou outro, a minha nebulosidade em contato com os raios solares crie alguma sombra que os incomode um pouco, no entanto, é pouco de mais, é preferível enxergar a pequena luz que luta em aparecer em mim durante o meu dia, pois ninguém quer dividir tristezas ou está disposto a estender as mãos e quando estendem, acredite, não estão totalmente abertos a te ouvir e ajudar.
     Esses dias tornaram-se eternidades. Tenho a impressão de que uma hora ou outra a luz se apagará por completo, afinal, o mais forte prevalece, a cor mais escura sobrepõe qualquer outra cor e os meus dias estão escuros; não há nada pior do que enxergar a própria escuridão.
     Observe que, dificilmente, as pessoas descrevem as cores claras, coloridas de seu dia: a felicidade nos ocupa de mais para descrevê-la, é melhor vivenciá-la; em contrapartida, os dias nebulosos e cinzentos são registrados detalhadamente: a cor escura precisa ser omitida dia a dia para que as pessoas se acheguem a você, por isso, há necessidade em descrevê-la por palavras escritas. Palavras que, talvez, nunca sejam lidas ou compreendidas, mas palavras singulares que tornam-se plurais e não podemos deixá-las guardadas: sinto uma grande necessidade em fazer-me palavras.
     Bem disse um grande escritor que, o ser humano vive em constante construção, ele nunca está completo; todos os meus pedreiros e mestres de obras abandonam as ferramentas quando eu não tenho mais o que oferecer. Não consigo construir-me sozinho, mas na grande construção que há em mim, sou eu quem mais preciso trabalhar: um trabalho árduo e lento.
     Durante minha construção, precisei, nos últimos dias, quebrar uma parede que, na verdade, já estava rachando, mas que eu insistia em repará-la; a parede era grande e o estrago final também foi, agora, há uma grande bagunça e muita sujeira causada ao cair sobre o chão, neste momento, preciso de uma grande limpeza, uma faxina geral, pois os outros cômodos, alguns já pintados, foram atingidos pelo impacto da queda; alguns apenas se sujaram um pouco enquanto outros estremeceram e criaram rachaduras; para só depois, recomeçar a construção ou então, se melhor for, desconstruir a necessidade dessa parede e refazer-me diferente, mas com cores alegres e vibrantes que, certamente, não serão compartilhadas por palavras escritas e sim, por momentos vividos.

Marciele de Oliveira

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Mascaro-me


     Lembro-me bem daquela noite. E como é que poderia me esquecer? Na verdade, às vezes, eu faço questão de lembrar. Lembrar e relembrar, embora nem eu mesmo compreenda o porquê. Talvez, as lembranças isentem minha culpa, mas, afinal, culpa de quê? Que culpa eu posso ter se nem sei o que aconteceu? Bem sei do que não aconteceu...
     Senti-me só em meio à multidão e tudo o que levou anos para construir dentro de mim, evaporou-se, rapidamente, assim como o sal se evapora no mar. O problema, porém, era que eu não fazia mais parte desse mar: tornei-me sal perdido. Mas como?
     As pessoas alegres, pulando ao som da música e me empurrando de um lado para o outro: não me enxergavam, mas não deixavam de tocar em mim.
     Eu quis gritar. Berrar aos quatro cantos, qualquer coisa, soltar qualquer som, ruído ou gemido, talvez, eu quisesse chorar, no entanto, nem os meus soluços seriam ouvidos: ninguém ouve a voz que clama no deserto. Atravessei um deserto em mim e tornei-me desconhecido ou talvez, eu nunca o deixara de ser. Utopia!
     Aquela noite não parecia ter fim. Procurei recolher as forças caídas no chão e com muito esforço consegui dar alguns passos em frente. Eu não sabia para onde caminhar, sabia apenas que era preciso continuar e continuei a procurar.
     Por trás de cada máscara eu esperava te encontrar. Pois bem! Encontrei o seu sorriso, seu olhar, vi seus cabelos, senti o seu perfume, reconheci alguns de seus gestos e mesmo de longe, eu avistei o seu andar. Mas eram traços subdivididos. Você sempre se deu por completo e, agora, estou incompleto.
     A noite esfriou acompanhada de uma forte chuva. Todas as máscaras caíram e você não estava por de trás de nenhuma delas, a minha, porém, fiz questão de vestir, pois era triste de mais olhar para mim.
     Durante todas as noites, recolho-me no silêncio de meu quarto e no vazio de minha alma, então, coloco a máscara em minha cabeceira, é quando eu sou o que realmente sinto, já pela manhã, mascaro-me e vivo o meu dia, assim mesmo, a maneira que as pessoas querem me ver: o contrário do que você chegou a conhecer...

Marciele de Oliveira

sábado, 18 de fevereiro de 2012

"Amorchismo"


     Há algumas semanas a mãe de Ritinha observara que, diariamente, a garotinha dispunha de uma hora de seu dia em frente à fresta da porta do quarto de sua irmã mais velha.
     Durante as duas primeiras semanas, dona Marta não se importou, pois havia muito trabalho a sua espera e do contrário de indagar sua pequena curiosa era preferível, esperar o momento em que Ritinha iria indagá-la sobre o que estava a observar. No entanto, passou mais uma semana e nada. Dona Marta percebia que Ritinha ainda fazia sua parada diária, mas permanecia sem questionamentos até que, o silêncio da pequenina a incomodara, o suficiente para quebrá-lo, ela mesma, durante há quarta semana:
     _ Ritinha, minha filha, o que fazes em frente à porta do quarto de sua irmã todos os dias?
     _ Nada de mais mamãe. Só estou observando a Raquel conversando com suas amigas.
     _ Minha filha, a mamãe já te explicou que é muito feio ficar ouvindo a conversa dos outros, lembra?
     _ Sim mamãe, eu sei. Mas no meu caso é diferente, pois todo pesquisador deve observar o seu objeto de pesquisa.
Dona Marta demonstrou-se confusa. Sentia-se no lugar de sua filha caçula e tornou a questionar:
     _ Como assim Ritinha? Você está querendo me dizer que está pesquisando algo e que sua fonte de pesquisa é sua irmã? Mas que pesquisa é essa?
Sem se opor a responder, Ritinha, cheia de si, toma sua cardeneta de anotações nas mãos e começa a explicar para sua mãe:
     _ Bom, outro dia, eu ouvi dizer que, o amor verdadeiro é único e valiosíssimo, pois é raro de se encontrar. No dia seguinte, há três semanas, eu passei por aqui e ouvi a Raquel falando ao telefone com o Guilherme, dizendo que o amava e, assim, afirmou a semana inteira, mas na semana seguinte ela havia dito a sua amiga que, o Guilherme já era coisa do passado e que, o amor de sua vida era o João até a chegada da terça-feira, na semana passada, quando eu a ouvi dizer para sua amiga que descobriu amar de verdade o Lucas e, talvez mamãe, ela o ame mais do que os outros, pois já se passou uma semana e cinco dias que ela o ama. Ou seja, quero saber depois de quantos falsos amores encontramos o verdadeiro amor.
     _ Ritinha, quando eu penso que você já me surpreendeu o bastante, você vem e me surpreende mais. – diz dona Marta rindo e abraçando à filha – Olha querida, na verdade, não existe uma conta exata para que todo mundo encontre o resultado de um amor verdadeiro, ele simplesmente acontece e chega no momento em que tem que chegar. Você não precisa se preocupar.
     _ Mas mamãe, como é que eu vou saber que ele chegou? Pois a Raquel, por exemplo, a cada semana acredita que alguém é o seu amor e isso me parece muito confuso. Posso amar deixar de amar e amar novamente em um período tão curto?
     _ Minha pequena, dizer que ama nem sempre significa que está amando de verdade, no caso de sua irmã é apenas uma fase que logo passará. Não se preocupe. Agora saía daí e vá brincar ok?
     Dona Marta se levanta e vai para o seu quarto acreditando que o assunto terminou, mas Ritinha não se contenta e vai até a mãe.
     _ Mas mamãe e se não passar?
     _ Se não passar o que Ritinha?
     _ Se não passar essa fase do “achismo” da Raquel? Ela vai viver sem conhecer o amor verdadeiro?
     _ Sempre passa minha filha. A fase da vovó passou, a minha passou e por aí vai.
     Ritinha permaneceu em silêncio enquanto sua mãe estava a guardar as roupas. Respirava fundo, mostrava-se pensativa, ameaçava falar por várias vezes, mas se conteve. Dona Marta a observava, mas preferiu esperar pela filha que, ao caminhar para a porta do quarto fez uma parada e disse:
     _ Não sei mamãe, mas não acredito que a fase do “achismo” passe na vida de todos. Concluo minha pesquisa dizendo que, as pessoas preferem viver um falso amor, desde que haja justificativas para ele existir, do contrário de viver um verdadeiro amor cujas justificativas não existem. Porque justificativas, mamãe, eu tenho para comer, beber, tomar banho, cortar as unhas, pentear o cabelo, dormir e acordar, mas para o amor...
     Ritinha fechou a porta e saiu, sem ao menos, esperar pela resposta de sua mãe.

Marciele de Oliveira